Sunday, April 20, 2008

Ausência

Tirei férias de mim mesma, ausentei-me, abandonei a minha casca... e ainda não voltei. Nos meandros da fuga, deparei-me com um oásis e corri mas a miragem dissipou-se. Deixou-me somente um pedaço de papel e uma caneta muito usada. Entre o nada e o muito pouco, fui optando pelo menos evidente até que, estarrecida, cancelei a escolha. E escrevo estas míseras linhas.
Poucos escrevem sobre o silêncio ou sobre a imperatriz solidão. Mais foi o que aconteceu ao "outras aragens", tendo ficado votado ao domínio dessa temível imperatriz.
Quando reencontrar o meu casulo, retroceder a mim mesma e aos meus, darei voz a essa imperatriz ou calá-la-ei para sempre!

2 comments:

LA said...

Por vezes, só quando nos perdemos é que acabamos por nos encontrar as nós próprios. Poucas coisas definem melhor quem somos do que o sabermos o que não somos. Falo por mim, fiz coisas que conto não repetir, mas cuja curiosidade me levaram a fazer.
Hoje sei melhor quem não sou, ajuda-me na definição de quem sou, do que procuro para mim, para a minha vida, sabendo o que não sei, evita-me apostas em algo comprovadamente errado (e não errado porque o dizem).

Referes o silêncio. Não é o silêncio que nos permite melhor escutar o som natural das coisas? Não serão os 4'33'' de silêncio que nos permitem ouvir o som que a orquesta tem?

Gostei de voltar a ver o "outras aragens" com um pouco mais de vida. Arrisco a dizer que será sintoma de um novo despertar, passado o periodo invernal, voltou o sol, dias mais longos.

LA said...

Por mais uma vez, olho para baixo, e vejo nuvens. Início da concretização de um sonho, de um ideal com que se sonhava, daquilo que faz parte de um plano de vida traçado há muito.
No entanto, qual o custo, o que é (ou foi) necessário de sacrificar de nós próprios para isto? Até que ponto nos podemos arrepender das opções tomadas ao longo do tempo? E será que confrontados com os mesmos dilemas, na mesma situação, tomariam uma atitude diferente?
Por definição, se estamos na mesma situação, e assumindo invariância da nossa parte, e que somos seres racionais, a decisão seria a mesma. Mas, até que ponto somos invariantes, ou quanto as nossas experiências vividas nos fazem mudar?
O que sou hoje é o produto final de toda uma não tão longa experiencia de vida, e onde tenho as coisas que me arrependo de ter feito, e um conjunto ainda maior de coisas que me arrependo de não ter feito.
Aprendi algumas coisas, como por exemplo a não adiar o que realmente quero fazer, viajar, conhecer o mundo, cumprir a profecia de ser mais europeu que português, cidadão do mundo, mas que conhece as suas origens, e para lá gosta de voltar, tal como agora o faço. Aprendi que há coisas que quando se perdem, muito dificilmente voltam, apesar de todo o magnânimo esforço despendido para tentar recuperá-las. Aprendi que as oportunidades quando aparecem devem ser reflectidas, e apanhadas sem hesitação. E que nunca é tarde para tentar desfazer o mal feito. Aprendi que gosto que me respeitem o espaço, tal como senhor do meu nariz que sou, E que devo respeitar o espaço nasal do meu vizinho. Ainda não aprendi que por vezes há alturas em que é preciso quebrar a gelada fronteira invisível que nos separa.
Sabendo que até hoje aprendi isto, admito que me arrependo de algumas opções e atitudes tomadas no passado. Claramente mais na esfera pessoal que nas restantes. No entanto, talvez a dor desse custo sobrevoasse para os restantes domínios da vida privada, e desse modo condicione a visão que se tem sobre o mundo. Não deveria uma pessoa ser capaz de viver com isto? Quando é que uma pessoa deverá finalmente aprender a viver com o peso do passado, e limitar-se a dar como amortizada a dor e a esperança?
Todas estas opções tomadas, inclusive as que hoje tomaríamos de um modo diferente, continuem um fardo pesado. Que contrabalançamos com as alegrias e paixões da nossa vida real. Restará saber para que lado a balança pende. No meu caso, quedo-me por indeciso, indefinido.
Pode-se também projectar o actual presente como um futuro passado, e tentar perceber qual a quantidade de privações que estamos dispostos a fazer para suportar.
Até quando a utilização do nosso tempo deve ser aplicada a investir num futuro esperado? Ou até que ponto deveremos aplicar o nosso tempo na realização dos nossos desejos presentes?