Sunday, April 29, 2007

Saturday, April 28, 2007

torpedos perdidos

Redenção. Talvez me tenha enganado. Existes, mas não te alcanço. O meu cérebro tomou uns laxantes, mas ainda uns neurónios mais persistentes insistem. Porque quiseste olhar-me nos olhos? Rastejo desde esse dia. Antes a quietude que a desilusão. Prefiro não te ter a ter-te perdido num dia de mortais dores de perder alguém. Perdi-me e perdi-te e voltei a perder-me porque te perdi, mas nunca perdi a esperança de amar como te amei, porque nunca deixei de te amar.
Escolho a dignidade à flatulência pessoal, a honestidade à gravitação financeira. Se escolhes comigo, seremos um só... ou seremos paralelos, como nunca fomos (e eis a verdadeira essência do drama)

...estas palavras

Hoje tenho a cabeça às voltas (é verdade que um pouco de álcool a faz fervilhar, mas esta coisa de ser sonhadora também influencia...) . Penso em ti a cada instante, o teu sorriso jorra de canto em canto, em cada fenda da minha vida, nas minhas alegrias e nas minhas lamurias. Seria tão mais fácil não me ter reencontrado, não ter trocado comigo mesma os rancores de sonhos ocultos. Apetece gritar que a culpa é tua, mas sei que nunca me ouvirás... Já não existes, porque tu és somente o meu sonho, é em mim e comigo que estás, sem mim não és sequer uma possível existência. E, no entanto, eu preciso de ti.
ERREI e trago comigo as enciclopédicas lições do erro. Quanto a ti, já não me importo, a tua história foi escrita na tua pele, invisivelmente tatuada. Contudo, eu leio essa tatuagem. Porque tu és o culpado de eu saber amar, porque tu és o culpado de eu querer sonhar, porque tu és o culpado de olhar para as sombras e querer reconhecer a pureza da luz que se esconde por detrás de cada uma delas.

Friday, April 27, 2007

...que não estás

Não é solidão o que sinto, não pode ser, é mais do que isso... Não há ninguém por cá... Há tanto que o(s) alguém(s) se confundem nas nubladas quimeras, há tanto que as vozes se perdem no meio dos sussurros da noite... Escuto o coaxar das rãs, debruço-me languidamente no parapeito da janela da realidade e ainda consigo, a custo, agarrar um pedaço de mim. E nesse preciso momento, tão preciso quanto rebelde e fugidio, aproximo-me desse entulho de faltas que me atormentam... O ar está estranhamento rarefeito por tantas "não presenças"... Falta-me aquela voz que exalava das paredes. Faltam-me as mãos que tocavam incessantemente as minhas. Falta-me aquele sorriso estranhamente contagiante. Falta-me a ternura do teu olhar. Falta-me a tua rebeldia. Falta-me a tua prontidão. Falta-me o teu entusiasmo. Falta-me o teu abraço. Falta-me a tua pieguice. Falta-me a tua preguiça. Faltas tu... Afinal, esta amargura é somente a tua longa e irreparável ausência...

...escrevo sem rédeas

São dois sorrisos, meia dúzia de dedos de conversa. Olhos postos no horizonte, a mochila às costas com as lições do passado. Ao lado, dois pares de óculos, dois livros, duas histórias cruzadas. A luz do amanhã continua indecisa, ténua e intermitente. Afinal, haverá mesmo o amanhã?
São as recordações (boas e más), os sonhos e os receios de novos pesadelos, e é aquele coração que bate lá dentro, insistente e envergonhado. Sob o signo do sigilo, os olhos cruzam-se e tornam a cruzar-se, mas negam-no, não vá a consciência alheia interpelar os desejos. Serão legítimos?
Terá a vida tempo para novas oportunidades? E depois é o interregno, é aquele tempo desconhecido, aquela noite que se prolongou e que agora é entrave à nova luz, é aquela vida que não pertence...
O tempo cibila, os óculos recolhem-se e a história continua, paralela. O coração aguarda pelo novo amanhecer, pelo raiar incólume do sol. Sigilo debaixo do braço, trocam-se as já pesadas mochilas. Nas mãos ainda jazem as rosas brancas mas no rosto já vai ancorado...o nosso sorriso...

Do Estagirita ao "orgulhosamente sós"

Discorrer sobre a sociedade, na insaciável procura do definição do que é e do que deveria ser ou, eventualmente, do que seria se vivessemos um ideal geral, é cada vez mais o tópico do momento. Opinar sobre utopias e realidades sem descartar, obviamente, lugares comuns como as taxas de juro e o desemprego ou o referendo ao aborto é tão indiscretamente fácil! Andamos todos a falar do mesmo, mas cada um é escudo dos seus próprios interesses. Convido-nos a fazer uma analepse embebida numa prolepse para que a análise não seja forjada, reiterando com antecedência que não sou historiadora nem tampouco socióloga; mas faço trabalho de campo todos os dias...
Dizia Aristóteles que o fim último do homem é a felicidade, alcançada quando o ser humano, por conseguinte, dotado de capacidade racional, realiza devidamente as suas tarefas na Polis. Hoje, de maneira diferente, é o "amor" o fim último, casa-se por amor, faz-se sexo por amor, protege-se o ambiente por amor, tem-se a conta bancária a zeros por amor, estuda-se por amor, mata-se por amor, etc, etc, sem que possamos esquecer o ter uma vida vazia por amor ou por necessidade de amar. Fazem-se viagens a destinos paradisíacos por amor ao próximo ou pela flatulência pessoal do querer mostrar à Polis que se consegue?
Efectivamente, tenho dúvidas de que sejam muitos os virtuosos, ou que reconheçam na vida da razão uma virtude. Todos somos assumidamente seres sociais, comparáveis a planetas no universo do "salve-se quem puder", seres sociais à nossa maneira, sem meio termo e sem ter em mente que alguém já o considerou, do "plus je fais l'amour, plus je fais la révolution" ao embarque ad infinitum numa qualquer causa, seja política, ambientalista ou teológica. Há quem leia nestas pertenças sociais que só assim se é um verdadeiro ser social, defensor do todo que somos, e que, irresponsáveis, cada vez mais muitos tendem a esquecer.
Não abdico da defesa de um cepticismo transversal, incólume até... cada um de nós cabe no(s) lugar(es) que as sociedades nos permitem. Hollywood pode até ser mais do que uma quimera, mas tudo o que o ser humano faz, tem sempre um qualquer interesse subjacente; é-me difícil admitir que há ainda quem deseje ser orientado pela razão, quem queira encontrar o justo-meio, usando, prudentemente, a riqueza, moderadamente os prazeres e conhecendo, correctamente, o que deve temer.
Enveredar por estes caminhos assaz tortuosos é sempre tarefa complicada. No entanto, depois de me terem sido gritadas aos ouvidos críticas ao "orgulhosamente sós" de alguém que pegou num país às costas, parece-me que hoje são mais que muitos os que olham, sós, para os seus umbigos e, reflectindo neles mesmos a degradação da Polis, nada lhe dedicam para além dos seus excessos ou defeitos. Mas o desígnio pessoal de cada um de nós, o que é?