Monday, May 21, 2012

Qual é a diferença entre dizer o que se sente e sentir o que se diz?

Thursday, April 1, 2010

Música

Foi contigo. Em V. Lembras-te? Andava como quem cantava. Dançava ao som do amor. E bastava um sorriso teu para o mundo caber na minha mão. Achava que conseguia tudo. Correr no meio na neve. Chorar lágrimas de amor. Assistir a um concerto sem chorar. Colar-me ao vidro de um eléctrico sem ter frio. Adormecer a sorrir. Acordar nos teus braços. Imaginei-me a Sissi, a quem me comparaste... estrelas no meu denso cabelo longo, diamantes... sem qualquer valor quando comparados com o brilho do teu olhar. Nunca cheguei a ponderar o quão profunda fora a comparação, o quão trágica pudesse ser... Abracei o pinóquio, comi apfelstrudel... mas nada se comparava à tua companhia. Porque era por ti que tudo era possível. Incomparável, insubstituível. Até que fui dar o meu concerto. Maestro. Dezenas de músicos tocavam ao meu ritmo. Não ao teu. Estavas imóvel. Foi quando percebi que tudo era assim não porque tu estavas lá, mas porque eu estava... E os sentimentos não eram concessões de quotas da tua generosidade, mas uma graça do ser humano. De qualquer um. Como todos os outros.

Interrogações arqueadas

Interrogo-me tantas e tantas vezes sobre a vida. Que sentido lhe devemos dar? Que garantias tem para nos oferecer? Uma correria desenfreada atrás de uma carreira profissional que nunca se delineará? Uma procissão sangrenta por um amor que mói e faz sofrer? Sento-me e olho ao meu redor, por uns momentos, como se nada devesse nem nada tivesse a receber... Vejo as pessoas correrem atrás de dinheiro, muito dinheiro, ignorando princípios, valores..., vejo concepções de amizade denegridas, putrefactas..., vejo enredos e intrigas desmesuradas..., vejo a necessidade que se tem de se ser melhor que o outro..., vejo famílias destruídas, casamentos destroçados, amantes de costas voltadas, egoísmos rebeldes e trágicos. E não gosto do que vejo. Fecho os olhos e por uns instantes inspiro e expiro, relembro um mantra, imagino que consigo fazer algo melhor... mas a submissão e o rebanho impelem-me num sentido estranho... O sempre agradar para que não seja falada, o sempre esconder para que não seja apontada... O medo de arriscar e ser falhada. Estou na insegurança de cada olhar, na incerteza de cada dia e com uma enorme vontade de provar que pode ser diferente. Falta-me o como. Há-de chegar. Ele não fabrica coincidências...

Thursday, March 4, 2010

Um ano depois

Um ano depois de me sentar à espera que o nada me tapasse a boca, continuo sentada e amordaçada, mas agora foi o nada quem me beliscou.
Não consigo perceber as incongruências da vida e detesto ser adulta. Ter que ter, ter que fazer, ter que agradar, ter que deixar de ser eu porque a vida é assim... Quando era criança podia correr até ao infinito porque ele nunca fugia de mim, e eu sentia sempre que cada dia roubava um bocadinho dele e o trazia comigo, na minha pequenina mãozinha. Hoje o infinito não é para mim. Roubaram-me até os pedaços que, com tanto amor, preservava mesmo junto ao peito. Não me resta nada, para além das mordaças na boca e do sabor a sangue e a dor que me escorre por entre os lábios. Talvez esteja finalmente a acordar da morbidez dos meus dias. Ou talvez esteja simplesmente a reconhecê-lo e a entregar-me desde já.
Fica sempre tanta coisa por dizer... e tantas outras que são ditas vezes demais. Por norma, as más repetimo-las vezes sem conta, como se um rosário desfiássemos, e as boas, essas, fechamo-las a sete mil chaves num baú... não vão elas saltar cá para fora ou encher o nosso cérebro e o nosso âmago de um frenetismo feliz desapropriado...
A minha vida é labiríntica... já pensei em comparar-me a Ícaro... voar por cima do labirinto poderia fazer-me perceber como de lá sair... mas e se queimo as minhas asas no astro que tanto admiro? Por outro lado, e me deixo apodrecer no labirinto, à espera de dias melhores?
O sonho, sempre o sonho...

Monday, March 9, 2009

Sente-se

Sente-se e assista ao desenrolar da vida... ninguém lhe disse para intervir, ninguém pediu opiniões, e se o ensinaram a dá-las, esqueça que o sabe fazer. Ninguém vai ouvir. Estão todos sentados a assistir, cegos, surdos e com tendências para a mudez. Sente-se. Sente-se. Ali está um bom lugar. Sente-se. Agora olvide. Canse-se de tanto tentar esquecer. Entorpeça o seu cérebro de tanto exercício não lhe dar. Amachuque ideias. Sobretudo as suas. Enquanto isso, o fosso aumenta, alarga, amplifica-se. Não tente saltar. Fique na plateia. É tão útil quando nada faz!

Sunday, November 23, 2008

Não sei o que busco, porque nem eu própria sei quem sou...
Passeio-me por ruelas conhecidas e descubro sempre algo de novo, que já lá estava há imenso tempo mas que, quem sabe por mero acaso, me revelou um qualquer novo encanto... E depois há este imenso receio ansioso, aquela vontade de tudo abraçar, porque o ter o mundo num abraço ainda me parece concretizável. Quão ingénua e idealista!
Corro sem sair do mesmo lugar e ufff que cansaço ao fim de cada dia! Uma sala fechada, milhares de vozes que ecoam, prioridades que competem entre si na minha batalha naval interior e, no fundo, parece que me embriago com o cansaço para esquecer os meus sonhos e atenuar a densidade de cada uma das minhas lutas... Deixei de sonhar com o amanhã, ele desperta sozinho, por vezes mais encantado, outras vezes mais desesperado... não, não perdi os sonhos, quais hélices do ser humano; simplesmente aprendi a viver com a impossibilidade de concretização de muitos dos meus. Porque o dia não tenho 50 horas, porque a juventude é uma bênção com os dias contados (e não me venham dizer que é psicológico... se não as mulheres poderiam ter o primeiro filho aos sessenta anos e ainda iam todas a tempo), porque o mundo é selvático e nem sempre podemos agradar às pessoas que amamos... Acho que a vida é uma sequência de cruzamentos, de escolhas e de lotarias... dizemos que a pautamos por sentimentos, mas ritmamo-la por egoísmos carismáticos. Estabelecemos prioridades que traímos e ferimos confianças que criámos. E apesar de tudo isto conseguimos ser seres humanos maravilhosos, derreter corações e inventar beijos com sabor a chocolate quente numa tarde de Inverno bem chuvosa...
Como poderei eu conseguir delinear-me quando todos nós andamos num labirinto sem rota nem bússola?

Saturday, July 19, 2008

Memórias: honorários de nós mesmos

Mais uns meses, mais umas semanas, uns dias... e poderia continuar até onde a gradação mo permitisse. Mas acho que simplesmente não me apetece. Se pudéssemos escolher a vida que levamos, que desenho faríamos? Como arquitectaríamos? Pintá-la-íamos?
Remexo nestas incómodas gavetas que, nem sei bem porquê, permanecem comigo e em mim, e não encontro a resposta. Talvez não coexista, porque incompatível, comigo. Ouço as tecedeiras de críticas ríspidas e agrestes e deixo pairar as conselheiras pacíficas e optimistas.
No entanto, tudo não passa de literatura cor-de-rosa mal passada a papel vegetal para cada vida. Lembro-me sempre da Penélope tecedeira e da robustez dessas estantes de memórias... Quem de nós? Hoje, mais clarividente do que nunca, as memórias são as telas de nós mesmos, ora rabiscos, ora verdadeiras Nascimento de Vénus, mas tantas vezes infelizes e comprometidos honorários...